sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Benjamin Clementine - Mexefest

Há qualquer coisa de mágico num palco que se enche apenas com uma voz e um piano. Numa sala de concertos que se enche com uma voz e um piano. É só uma voz que ali está. Um piano - por vezes uma bateria - e pronto. Não há mais nada. Não há um baixo, uma guitarra. Não há coros, espalhafatos nem distrações. Não há sequer uma pessoa. Porque quem foi ao Coliseu na passada sexta-feira foi para ouvir. Podia não ter aberto os olhos a noite toda que saía de lá cheio. A transbordar.

A noite era de festival e eu não escondi a quem me acompanhava esse receio. Nada contra festivais, muito pelo contrário, mas na minha cabeça Benjamin não era artista de festival. Era artista de concerto. Não era artista de jola de meio litro. Era artista de tintol. Não era artista de pé. Era artista sentado. Não era artista de saltos. Era artista de ouvidos. Atentos. Agradecidos.

Mas cedo as pessoas que preencheram por completo o Coliseu me fizeram sentir ridículo, sobranceiro, por achar que quem lá estava não sabia ao que ia. Ainda Benjamin se estava a sentar e já meio coliseu fazia "shiiiuuuu" aos poucos que ainda falavam entre si, talvez para conter o entusiasmo de ali estarem. Assim que as pessoas fizeram silêncio - silêncio ansioso mas sepulcral - apenas se ouviu uma voz. E que voz foda-se. Que voz do caralhão que encheu o Coliseu na sexta-feira. Que encheu Lisboa. Que nos encheu a todos quantos tivemos a sorte de ali estar naquela hora e pouco.


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