Com "Yellow House" os Grizzly Bear criaram um culto. Com "Veckatimest" anuncia-se um acontecimento. Serão um dos fenómenos de 2009.
Há cinco anos, Ed Droste editou o caseiro "Horn Of Plenty", álbum de sombras e de uma voz que, envergonhada, se escondia entre os instrumentos e a mancha sonora da produção.
Depois, em 2006, Droste criou novas canções e decidiu gravá-las com músicos amigos da Universidade de Nova Iorque. Mudaram-se para um casarão em Cape Cod, propriedade da mãe de Droste, e nele nasceu "Yellow House" - sim, a casa que transformaram em estúdio era realmente amarela.
Esse álbum, o segundo dos Grizzly Bear, mas o primeiro gravado enquanto banda, continuava a não denunciar nada do animal imponente e feroz a que Werner Herzog dedicou um filme. Continuava a ser álbum de sombras, delicado e fantasmagórico. Mas era claramente "maior".
À volta de Droste dispuseram-se então o baterista Christopher Bear, o produtor e multi-instrumentista Chris Taylor e o guitarrista e vocalista Daniel Rossen. A música sofreu com isso: surgiram arranjos intrincados e frágeis crescendos sónicos e a simplicidade lo-fi deu lugar à grandiosidade orquestral. O que não mudava era a sensação de introspecção, a ideia de um disco fechado sobre si mesmo. Por outras palavras: "Yellow House" não nos chamava a entrar nele. Discreto, tímido, esperava que alguém batesse à porta, curioso pelo que nele se escondia.
Como sabemos, os discretos e tímidos Grizzly Bear começaram a ser bastante "incomodados". "Yellow House" tornou-se fenómeno de culto e liderou várias listas de melhores do ano. Com ele, perderam a timidez.
Digressões com Feist, Radiohead e TV On The Radio e colaborações com o fã Paul Simon e o amigo Owen Pallett (Final Fantasy) - pelo meio, concertos com a Los Angeles Philarmonic Orchestra e um recomendadíssimo álbum dos Department of Eagles, banda que Daniel Rossen mantém paralelamente aos Grizzly Bear. E agora isto.
Nos meses anteriores à edição de "Veckatimest", o novo álbum, com título retirado a uma pequena ilha no Massachussets, a ansiedade não parava de crescer.
Uma sensação de acontecimento, em crescendo e que acabou como estas coisas normalmente acabam: a escrever-se furiosamente "os Grizzly Bear são os novos Fleet Foxes" - e não interessa, entenda-se, que a música de uns e outros seja tão semelhante quanto um urso e uma raposa; interessa que, depois do sucesso improvável da folk psicadélica dos Foxes, elegeu-se os Grizzly Bear como sucesso mais que provável de 2009. E eles, se não o sabem, sentem-no: "Tem sido incrível. Estamos a tocar em sítios maiores [que na anterior digressão] e estão sempre esgotados. Está a ser toda uma nova experiência, muito excitante. Sinto que somos muito afortunados."
Estas são as primeiras palavras que o Ípsilon ouve de Ed Droste, directamente de Milwaukee, no Wisconsin, em compasso de espera para o teste de som de mais um concerto. Mais à frente, voltará a falar dos concertos e de como a banda aprecia agora as salas esgotadas: "No primeiro ano, assustava-nos tocar ao vivo. Não olhávamos para o público e ficávamos ali sentados o tempo todo, muito nervosos. Agora, habituámo-nos ao jogo psicológico que envolve o palco e sentimo-nos mais confortáveis. Levantamo-nos e cantamos bem alto". "Cantamos bem alto" - isto é importante.
Knife
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