domingo, 13 de novembro de 2011

Cass McCombs - Humor Risk

Se alguém esperava que as suas cantautorias miseráveis fossem reincidentes em todas as faixas de um irmão tão novo do sôfrego Wit’s End, então o senhor Cass fez questão de diluir essa esperança no primeiro tema. Desta vez quem vem a palco são os genes mais rock de uma I Cannot Lie (essa mesmo) há muito fugida, a clonar a faixa de abertura Love Thine Enemy. Não há quem se divirta mais – ou se divirta sequer – do que Cass McCombs quando é chamado ao lamento. De barba feita e traje aprumado é, sem dúvida, coisa que lhe dá prazer, teoria que o primeiro dos dois discos já atirados no ano corrente pode muito bem suportar. Fruto de viagens por vários dos estados e hóspede em tantos outros sofás, foi sorvendo, cuidadosamente, as palavras que dariam as mãos à sua habilidade lírica e um segundo álbum neste 2011: Humor Risk

Há épico com piscar de olho à ironia e, como é o caso de Misery Mail, afinidades com uma luz com que possivelmente o seu noise country nunca havia privado. Mas nem estaríamos a falar de um disco a la McCombs não tivesse o amor fracassado e as melodias arrastadas a ondular entre a tristeza e o prazer. Algumas vizinhas de faixas antigas como Sacred Heart ou The Executioner’s Song, das que têm o seu lugar sempre reservado. Embora com menos brilho mas não com menos esplendor – e alguma pena de si mesmo – não se deram por escondidos gestos como To Every Man His Chimera ou mesmo a conclusiva Mariah. Apontar de pop uma canção de Cass pode ser acusação grave, ainda assim, The Same Thing, a casamentar dor com amor, faz sorrir – daqueles sempre amarelados – a baixa fidelidade de um folk que hesitou ali em qualquer cruzamento da Route 66. Não que fosse, necessariamente, para o errado, mas não seria só o previsível. Deve tanto a Lou Reed ou a Smog como Kurt Vile lhe deve a ele mas, neste caso, sofrer com sofrer se paga. Finalmente, McCombs deixou o seu sorriso de canto-da-boca (sarcástico, sempre) ser conhecido e deu-nos uma das surpresas do ano: também parece haver humor na música dele. Parece.


1 comentário:

dom manuel de manucho y manelson disse...

isto é um grandessíssimo barulho ó zé miguel.