terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Active Child - You're All I See

Pat Grossi é Active Child. Hoje em dia homem de solidão criativa mas em tempos menino de coro. Ele diz mesmo que há remanescências desses tempos nas suas canções, não tivesse sido o seu primeiro contacto com a música - aos 9 anos. A música não deixou de o escoltar até aos 21, altura em que prova pela primeira vez o paladar do instrumento que, mais tarde, acaba por defini-lo enquanto músico: a harpa. Poucos ousaram misturar esse som, que soa a tão único, com texturas de universos da electrónica. Em Curtis Lane EP parecia sentir-se cómodo a movimentar-se num chillwave mais erudito, embora You're All I See - o seu primeiro registo - faça mover-se em terrenos mais distintos. Uma esfera invulgar. Um novo local, onde a angelicalidade vocal em falsete nos envolve num universo tão pessoal quanto aberto, tão introspectivo quanto transparente, tão real quanto fantasioso.

Há relação fraterna com atmosferas de Final Fantasy (actualmente Owen Pallet) e um possível imaginário em que a turma de Pecknold substitui as guitarras por sintetizadores. Um romancista de estúdio, dos que em resposta ao seu amor incompreendido encontra o conforto em sonhos pop. Sonhos harmoniosos, de movimentos brandos, espirituais, com delicadeza sombria mas agradável. Há estilos mesclados numa fórmula rara, talvez pela sua mestria multi-instrumentista, que desarma quem se atrever a deixar-se levitar canção sobre canção. No tema denominador abrem-se as portas ao caldeirão. De traços de hip-hop em Playing House, onde há colaboração de How To Dress Well, à new wave de Call Me Tonight, há de todos os retalhos um pouco. Afirmam-no Way Too Fast onde se entoam células dos ambientes de Eno ou High Priestess que nos cruza com o experimentalismo dos The Knife. É com boa vontade que trago novo nome à casa.

Ilustrado ou não, há concerto. Com ou sem romance, quer acompanhado quer com si próprio. Hoje, a 14, o menino de coro, com um enorme disco, sobe ao palco dos pilares do Lux para apresentar a sua primeira grande-obra. E eu aconselho.


1 comentário:

Morales disse...

Curti! Que tal foi o concerto?