Seasick Steve (Paredes de coura)

Um gajo vai ficando mais velho e vai encontrando cada vez menos tempo para a música. É triste mas é verdade e o MFTF acaba por ser o exemplo acabado disso mesmo. Já não são dezenas de concertos e quatro ou cinco festivais por ano. Agora é meia dúzia de concertos por ano (alguém quer ir a Placebo comigo?) e um ou dois dias de festival e fica a coisa feita. 2014 tem sido assim. Um dia no Meco para ver dois grandes concertos de Woodkid e Massive Attack e um dia nas margens do Tabuão só para visitar o melhor festival do mundo e sentir que sou feliz outra vez. Paredes de Coura tem esse condão. Não se passa por Paredes de Coura. Paredes de Coura é que passa por nós. E vai ficando.

Na minha (e do Mecas) incursão por Paredes este ano - uma curta e manifestamente insuficiente estadia de cerca de 24 horas - tivemos o incomparável prazer de rever Seasick Steve. Depois de Glasto 2010, onde tinha passado relativamente despercebido, apresentou-se no anfiteatro natural de Paredes totalmente boquiaberto. "It's my 18th concert this year and I have never seen a setting and a crowd like this", disse ele logo à abrir enquanto inclinava a cabeça para trás para ver se a última fila o ouvia. Disse que andou a passear pelo rio, a falar com as pessoas, e estranhou que soubessem quem ele era aqui. Aqui, em Portugal. Acaba por ser um mal geral neste país. Como ninguém sabe quem nós somos, assumem que nós também não sabemos quem eles são. Pensando bem, isso não é necessariamente mau.

O que é verdade é que na hora, hora e meia que se seguiu, o senhor de 73 anos que é Seasick Steve deu um show que ainda me põe a bater o pé no chão sempre que me lembro. Equipado com as bugigangas todas a que chama de "guitarras", cantou, tocou, saiu, voltou e cantou mais um bocado. Tudo naquele ritmo de quem não tem pressa nenhuma de chegar onde quer que seja e com aquela soul que só um gajo que vive a música que toca consegue ter.

Obrigado Mecas.
Obrigado Steve.
Obrigado Paredes.
Nunca desiludes.

-