Tive a sorte de, recentemente, ouvir os Yeah Yeah Yeahs, uma das minhas bandas preferidas, ao vivo aqui em Singapura, e lembrei-me de partilhar com o fessoal algumas linhas sobre o concerto. Acho que daqui para a frente quem for a concertos e tiver paciencia de relatar 'a malta eh mais do que benvindo, nao so porque os grandes artistas (de rock) devem prova-lo em palco, mas tambem porque relatos de concertos dao uma nova dimensao ao blog. Pessoalmente, acho que a criacao, num palco, a minha frente, de musica, eh o momento mais sublime da experiencia musical enquanto ouvinte. Para la do prazer que eu teria em saber das vossas experiencias, acho que, como todos viajamos e/ou vivemos fora, sera giro daqui a uns tempos olhar para tras e ter um historial de concertos curtidos e registados. Se tiverem paciencia, claro. Olhem, eu tive, e ca vai. Chamei a esta nova seccao "Tales from out there". Curtinho, para nao ser chato:
Infelizmente excitei-me com os vodka tonicos antes do concerto, e quando la cheguei ja a Karen e companhia estavam em palco e a cantar. Aparentemente chegamos dez minutos depois do concerto comecar, portanto nada de fim do mundo mas claramente uma desilusao, ate porque me disseram que os gajos abriram com Runaway, que eh uma das minhas musicas preferidas do novo album: intima, potente e spooky, bem ao estilo de quem a canta. Fiquei sem saber como soa ao vivo.
O Esplanade Concert Hall eh uma das salas de concertos do moderno complexo de teatros e salas que compoem o Esplanade, a beira-rio em Singapura. So para dar uma ideia geral, estamos a falar de uma coisa, por dentro, da dimensao do Coliseu mas com uma disposicao arquitectonica semelhante a do Pavilhao Atlantico. Como os bilhetes esgotaram online em menos de uma hora um mes antes, so consegui arranjar bilhetes para os lugares sentados no segundo circulo. Os meus amigos Alex e Gabriela tiveram mais sorte que eu e conseguiram bilhetes la para baixo, se bem que, numa atitude bem tipica do Singaporean way of thinking, a plateia tinha cadeiras. Seja como for nem eu, nem eles, passamos um unico segundo de pe. A malta nos lugares sentados, como eu, nao parou de saltar, e os gajos la de baixo so nao rebentaram com as cadeiras porque iam presos, mas amontoaram-se todos la a frente a curtir que nem uns porcos. Possivelmente ganhei, tambem - se eh que o houve - o premio de "O Mais Suado" durante o concerto.
Inicialmente senti-me um bocado intimidado, a chegar sozinho, a meio do concerto, para um lugar sentado. (Quem eh o idiota que nao consegue convencer um unico amigo a ir a um concerto tao curtido, e ainda para mais chega atrasado e de camisa de fato???). Passado duas musicas comecei a ficar maluco. Alias, mal entrei, senti a energia. A Karen O eh, sinceramente, tao potente ao vivo como eu imaginava nos meus sonhos mais selvagens, um polo de energia longilineo e gritantemente agressivo, como se a qualquer momento pudesse (e fosse) explodir, e nos com ela. Estava vestida com uns leggings justinhos e umas plumas quaisquer por cima, quase uma versao feminina e moderna do Freddie Mercury.
Os gajos conquistaram-me para a loucura geral quando comecou a guitarrada enganadoramente suave do Cheated Hearts, que eh uma musica que me excita de uma forma tao intensa que se torna quase sexual. Aparentemente o resto do pessoal aqui tambem curte a musica, e as tantas dei por mim aos pulos com o resto da malta, a esbracejar javardamente, um bocado como o Froes quando ainda ia ao Garage. O som estava imaculado e a Karen estava bem potente, possuida pela actuacao; tambem ajuda que a maior parte das gajas na audiencia queiram ser como ela, e que a maior parte dos gajos adorasse saltar-lhe para cima so pelo intensa que a gaja eh. Portanto quando chegou a parte do "I think that I'm bigger than the sound" o pessoal ja nao sabia se estava aqui ou ali. Acontece que a seguir a essa linha vem uma pequena guitarrada e depois (aos 2:01m, na versao que esta no album "Show Your Bones") a gaja comeca a uivar um "uh-uh, uh-uh" durante uns dez segundos. Bem, neste caso a gaja comecou com o "uh-uh, uh-uh" e nao parou durante uns 20 segundos, e quando o pessoal ja tava em extase ela foi para uma ponta do palco e meteu o primeiro gajo da primeira fila a dizer "uh-uh, uh-uh" com ela.
Claro que o resto de nos curtiu aquilo e comecou tambem a uivar com eles, e a gaja tambem curtiu o momento, e passou para o segundo gajo, e depois para o terceiro, e para o quarto, e as tantas ela tambem uivava entre um e outro, "uh-uh, uh-uh", e o pessoal la em baixo e ca em cima comecou a ficar maluco tambem, e ela passou para o sexto, o setimo, a oitava, a nona, gajas, gajos, novos, velhas, "uh-uh, uh-uh", carecas, altos, baixos, asiaticas, europeus, as tantas a gaja ia a meio e ja la iam uns dois ou tres minutos, e eu apercebi-me que ela ia ate ao fim!!, e perdi a consciencia com o curtido que aquilo estava a ser, e a banda continuava a tocar, "uh-uh, uh-uh", ainda falta um quarto da linha, mais um, outro, bem, quando faltam uns dez gajos ja estava tudo para la deste planeta, e quando o ultimo soltou o ultimo "uh-uh, uh-uh" e a gaja se levantou (esteve de cocoras este tempo todo a andar tipo ra) aquela sala so nao explodiu porque as salas nao explodem de emocao.
A partir desse momento o concerto, que estava meio morno devido, maioritariamente, ao seating arrangement, passou para outra dimensao e eu, pessoalmente, ja so me apercebi de que eh importante um gajo manter a dignidade tarde demais. Uma loucura, pessoalmente, embora a excitacao de adorar a musica dos gajos e de ter uma paixao relativamente estavel desde ha 4 anos pela Karen O tenha ajudado a curtir que nem um maluco um concerto que, possivelmente, nao foi tao bom como eu penso que foi.
Passadas umas musicas, cerca de umas sete desde o inicio do concerto, os gajos voltaram ao "It's Blitz", com um Hysteric menos emocionante do que eu esperava mas um Heads Will Roll absolutamente selvagem. Por essa altura a gaja ja tinha trocado de roupa tres vezes e presentemente apresentava-se com umas penas de índio na cabeca. Mesmo o pessoal sem fetiche por indios (ha alguns?) ja tava completamente rendido 'a gaja e, diga-se com justica, ao resto de uma banda que consegue ser suficientemete curtido por si so, mesmo perante uma vocalista com aquela. Seja como for, ela eh dona e senhora do palco, tanto a perder o controlo nos sons mais energeticos como a magnetizar a plateia em sons mais mornos como Skeletons - cuja versao muito fiel a original, do album, me trouxe de volta boas memorias dos dias inteiros que a passei a ouvir em repeat ha uns meses atras.
Menos de uma hora depois do inicio os gajos foram embora com um "I love you Singapore" ao qual o pessoal reagiu com loucura, devido nao so a energia acumulada mas principalmente, penso eu, porque geralmente as bandas cool nao "love Singapore", ja que, se amassem, vinham ca mais, filhos da puta.
Tivemos de esperar mais de dez minutos a pedir por eles para voltarem para um fenomenal de Y-Control e mais uma ou duas musicas, antes de fecharem com uma versao acustica e intima de Maps. Maps eh, sempre foi, e sempre sera, a minha musica preferida de Yeah Yeah Yeahs, facam eles o que fizeram, e uma das minhas musicas preferidas em geral, portanto foi com emocao que recebi (todos recebemos alias) o guitarrista e a sua guitarra, acustica para esta ultima musica.
Enquanto o gajo dedilhava repetidas vezes os acordes iniciais sob uma iluminacao branca exclusivamente sua, a Karen fez varias dedicatorias para a musica, uma delas "to all of you out there, Singaporean, Malaysian, Indonesian!..", numa alusao a todos os fas que vieram ate Singapura tomar parte numa oportunidade unica (no Sudeste Asiatico) de ver uma banda que, a meu ver, este ano se consolidou entre os seus fas originais e se soube projectar para novos horizontes e abordar novas audiencias. De certa forma esta dedicatoria trouxe-me alguma comocao, imaginando a emocao para um grupo de amigos de Jakarta, Surabaya, Penang ou Kuala Lumpur de vir a Singapura ver os Yeah Yeah Yeahs. De certa forma, no meu subconsciente, irritei-me pela falta de oportunidades de tanta gente no Mundo assistir as suas bandas preferidas.
(Por falar nisso, no dia em que cheguei a Phnom Penh - Cambodja - soube que os Ratatat tinham la estado um dia antes. Nao eh random? Desdiz um bocado o que eu disse no paragrafo anterior, mas isso eh porque os Ratatat sao cool.)
Em todo o caso, o concerto acabou entao com um acustico de Maps cantado a meias entre nos e a Karen, com a ultima linha ("..they don't love you like I love you") a gravar-se, provavelmente, na memoria da maior parte de nos - e nos coracoes de alguns - ate muitas horas depois das luzes se acenderem e da realidade cair, aos poucos, como um veu.
Foi um grande concerto e vai apenas uma critica a organizacao (no minimo exigia-se uma plateia sem cadeiras) e outra a banda, porque uma hora nao eh um tempo razoavel para um concerto, ainda para mais - diga-se como pormenor adicional - ao preco a que isto foi.
Acabei a noite a jogar Playstation, a beber whisky e a ouvir Yeah Yeah Yeahs com o Alex e a Gabriela, ate, as tantas, me lembrar que ainda era terca-feira.
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